As glândulas suprarenais, também denominadas adrenais, são duas glândulas que se localizam sobre cada rim e produzem várias hormonas.

As doenças relacionadas com o aumento da produção hormonal, geralmente associado a um nódulo (adenoma), podem ter repercussão clínica com necessidade de tratamento cirúrgico.

Pode haver um hipercortisolimo (excesso de produção de cortisol), hiperaldosteronismo (excesso de aldosterona), ou feocromocitoma (com excesso de produção de catecolaminas).

Em qualquer uma destas situações a cirurgia para remover da glândula afetada (adrenalectomia) pode ser curativa.

Por vezes surgem nódulos na suprarenal em exames de imagem realizados com outro objetivo. Chamam-se incidentalomas e devem ser avaliados do ponto de vista funcional e de potencial suspeita de malignidade.

É extremamente importante haver uma avaliação multidisciplinar e uma grande experiência cirúrgica nesta área da cirurgia endócrina.

Nestas glândulas existem 3 zonas distintas, cada uma responsável pela produção de diferentes tipos de hormonas com atividades muito específicas no organismo: os glucocorticoides, os mineralocorticoides e as catecolaminas. Entre outras atividades, estas hormonas têm um papel importante na regulação da tensão arterial.

A indicação para intervenção cirúrgica das suprarenais coloca-se em duas situações:

  1. quando existe um tumor que produz determinada hormona em excesso, de forma autónoma e desregulada, causando sintomatologia e doença:  Síndrome de Cushing (excesso de produção de cortisol); Síndrome de Conn (excesso de produção de aldosterona); Feocromocitoma (excesso de produção de catecolaminas),
  2. quando existe uma lesão tumoral (não funcionante), seja de natureza indeterminada ou suspeita de malignidade.

Estas patologias podem ser assintomáticas ou provocar sintomas diversos, embora a manifestação mais frequente seja a hipertensão arterial. É habitualmente no estudo da hipertensão arterial que a maioria destas lesões são identificadas. 

No entanto, alguns nódulos da suprarenal podem ser identificados em exames de imagem realizados por outra razão (ecografia, TAC ou ressonância magnética). Neste caso são chamados incidentalomas, e a sua importância clínica vai depender do seu estudo funcional (se produzem hormonas em excesso) e das suas características imagiológicas. Em algumas situações, é importante a vigilância imagiológica para controlar o aumento de volume. 

O estudo destas situações deve ser feito em consulta de endocrinologia.

Além dos exames de rotina pré-operatória habitual (análises ao sangue, radiografia aos pulmões e ECG) é necessário também o estudo hormonal completo e exames de imagem específicos e dirigidos à supra-renal (TAC/RM). Por vezes é também útil a ralização de exames imagiológicos funcionais (cintigrafia ou PET). 

Uma vez que a repercussão da doença se pode manifestar com hipertensão arterial, exames para o estudo da função cardíaca e da tensão arterial podem ser necessários.

Geralmente a cirurgia é curativa, no entanto, no caso de contra-indicação cirúrgica, existem fármacos que ajudam a controlar as manifestações clínicas da doença. Dependendo do tipo de hormona secretada, na maioria dos casos, esse controlo pode ser difícil e o risco de complicações relacionadas com hipertensão grave e mal controlada pode ser muito elevado. É, nestes casos, obrigatório um acompanhamento contínuo em consulta de endocrinologia.

A cirurgia mais frequentemente realizada é a excisão da suprarenal afetada por laparoscopia (via anterior) ou retroperitoneoscopia (via posterior).

No entanto, lesões muito volumosas ou envolvendo os órgãos adjacentes devem ser operadas por laparotomia (via aberta).

A cirurgia da suprarenal exige por vezes uma preparação específica.

O ajuste terapêutico da tensão arterial é fundamental. 

Em alguns casos (como no feocromocitoma) é necessária uma medicação pré-operatória específica para evitar picos hipertensivos durante a intervenção. Nestes casos a monitorização em consulta de endocrinologia até à cirurgia é essencial.

Se toma medicação habitual, deve informar o seu médico, principalmente se tomar medicamentos que interfiram com a coagulação, como por exemplo aspirina ou clopidogrel, ou algum anticoagulante, como varfarina (Varfine) ou como Apixabano.

Depende da técnica cirúrgica e da gravidade da doença. O seu cirurgião endócrino poderá informá-lo, em função do seu caso concreto, mas habitualmente é menos de uma semana.

Habitualmente, no momento da alta será aconselhado pelo seu Médico e/ou Enfermeiro responsável.

Se foi usada cola biológica, não leva penso e pode tomar banho sem esfregar a ferida operatória. Não necessita cuidados de penso e não deve aplicar qualquer creme sobre a ferida nos primeiros 15 dias. 

Se a ferida operatória foi suturada com um fio, alguns são reabsorvidos pelo organismo e não necessitam ser retirados, enquanto outros serão retirados, tal como os dermo-clips (ou agrafes) ao fim de alguns dias, geralmente uma semana.

A ferida deverá depois ser massajada com um creme hidratante e podem também ser-lhe indicados cremes para ajudar na cicatrização e/ou outros com silicone, para ajudar a tornar a cicatriz operatória o mais imperceptível possível.

O uso de protetor solar (ecrã total) e evitar a exposição direta ao sol, são dois cuidados fundamentais durante os primeiros meses após a cirurgia.

Deve de uma forma geral evitar esforço físico durante as primeiras semanas.

Se a intervenção cirúrgica foi realizada por laparoscopia, a recuperação é bastante mais fácil do que se foi necessária uma intervenção cirúrgica por laparotomia (cirurgia aberta).  É natural haver algum mal-estar na região da cicatriz cirúrgica, tanto maior consoante a dimensão da incisão, que passa, habitualmente, com o analgésico prescrito pelo seu cirurgião no momento da alta.

Pode comer e beber normalmente, sem nenhuma restrição.

Normalmente não há restrições absolutas à condução automóvel, mas deverá evitar fazê-lo durante a primeira semana após a cirurgia. 

Pode ser necessário algum ajuste terapêutico e monitorização da sua tensão arterial conforme a patologia que motivou a intervenção e a alteração hormonal subjacente. O acompanhamento posterior em consulta de cirurgia geral e de endocrinologia é importante.

A cirurgia da suprarenal é geralmente um procedimento seguro, embora com riscos maiores em algumas situações. Por exemplo, lesões muito volumosas da supra-renal podem dificultar tecnicamente a intervenção. O risco de hemorragia ou de lesão de orgãos adjacentes (como por exemplo baço, pâncreas, cólon ou rim) é maior nestes casos, pelas alterações anatómicas induzidas. No caso do feocromocitoma o risco de complicações cardiovasculares intra-operatórias se ocorrerem crises hipertensivas de difícil controlo, não pode ser desprezado.

O regresso à atividade laboral vai depender do tipo de trabalho e do tipo de cirurgia que fez, pelo que o seu cirurgião deverá ser questionado em relação à sua situação particular.

De modo geral, se for um trabalho sem grande esforço físico, poderá reiniciar a sua atividade profissional após uma a duas semanas.